Já ouvi muito a história do tomate podre que estraga os tomates bons da cesta. Nunca ouvi a história do tomate bom que torna bons os tomates podres da cesta. É assim com as frutas. É assim com os homens.
A companhia é determinante em nossa vida. As boas companhias fazem bem à gente. As más companhias fazem mal. Não há como fugir dessa realidade.
Entre adultos, pode-se abrir exceção à regra. Mas será sempre exceção. Enquanto que entre os jovens a regra é geral.
Quem anda com drogado acabará drogado. Quem anda com bebedores acabará sendo um deles. Quem anda com ladrões acabará aprendendo e fazendo o que fazem.
É assim nossa natureza. O homem é social. Ele procura companhias. Ele precisa conviver. Mas ele precisa escolher a convivência. Ele precisa escolher os amigos.
Uma boa amizade é um tesouro para a vida inteira. Uma amizade má estraga e corrompe a vida inteira. Põe tudo a perder.
Nós nos identificamos, sem perceber, com as companhias que freqüentamos. É correta a afirmação antiga: Dize-me com quem andas e te direi quem és.
É inacreditável a ingenuidade com que muitos pais contemplam passivamente os filhos desde cedo freqüentando maus ambientes e más companhias. Acreditam piamente que seus filhos são impermeáveis e imunes ao contágio. Quando surgem os desastres, ficam atoleimados.
Dizem-me que quem não é pai não é capaz de avaliar o que seja educar um filho hoje.
Mas eu conheço pais que conseguem educar filhos hoje. O problema não é o hoje. O problema é o modo de educar.
Todos os pais educam seus filhos no hoje de cada época. E sempre houve os que souberam e os que não souberam educar. Não importando a época. O que sempre importou foi o modo de educar.
Mas hoje, a avalanche dos que não sabem educar é assustadora. Uns casam-se despreparados. Outros entram nos modismos da modernidade e procuram ser atualizados. Outros ainda, obcecados pela sexualidade precocemente explorada, não tiveram a oportunidade e tempo para forjar a própria personalidade e não têm o que transmitir aos filhos.
Ouço pais dizerem que não podem manter os filhos numa redoma. E concordo com a afirmação. Mas por que jogá-los na fornalha? Entre a redoma e a fornalha existe o meio termo da sensatez e da disciplina. Ao que se chega através do diálogo inteligente, franco e firme.
Esta firmeza é o que faz falta. Quem sabe o que quer, luta até conseguir. Quem não sabe o que quer, desiste aos primeiros impactos.
Os filhos sempre pedem liberdade aos pais. Isto começa já na primeira adolescência. E é ai que o problema deve ser enfrentado. E é ai que muitos capitulam, perdem a batalha e comprometem os filhos.
O fato de os filhos pedirem liberdade é natural. O modo de os pais abordarem o pedido e agirem diante deles é que deve ser entendido.
Os pais precisam explicar ao adolescente que liberdade não é presente que se peça e que se receba no Natal ou no aniversário. Liberdade é algo que deve ser conquistado palmo a palmo, na medida da maturidade e na medida em que se comprova essa maturidade.
Todos os pais que abrem cedo demais o espaço da liberdade para os filhos, pagam caro essa imprudência. Logo depois, não sabem o que fazer para conter o desastre. E não há mesmo o que fazer.
O mínimo que os pais precisam saber é aonde os filhos vão e com quem eles andam. E tomar medidas a respeito, quando necessário.
Muitos não sabem aonde os filhos vão e com quem andam. Outros sabem, mas nada fazem a respeito. Preferem comprar a amizade dos filhos com a permissividade. Compram e perdem o que compram.
Depois alegam que educar hoje é difícil...
Eu entendo que educar hoje é o mais empolgante desafio que os pais podem enfrentar. E quando enfrentam, colhem os mais empolgantes resultados.
Mas é preciso enfrentar. Olhar só, não basta.
ZECCHIN, João Baptista. O tomate, o ipê e outras histórias – coletânea de textos nascidos do cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. pp160-162.