17 novembro 2005

Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares e Sepé Tiaraju
Por Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)


Vinte de novembro é o dia da consciência negra. Lembra Zumbi dos Palmares, o herói da resistência negra, mártir da dignidade dos afro descendentes no Brasil. Eles carregaram o peso de uma das maiores perversidades produzidas pela civilização ocidental, que foi a espoliação do continente africano, pelo nefasto processo de colonização dos seus países, e sobretudo pela subjugação das populações africanas ao trabalho escravo, seja na própria África como em outros países pela exportação da mão de obra escrava.

Sabemos que o Brasil foi o último país do mundo a abolir oficialmente a escravidão. Não é de estranhar que suas conseqüências ainda se façam sentir, pelo peso dos preconceitos contra a população negra, por discriminações que ainda permanecem, e por situações de inferioridade social que se introduziram na estrutura da sociedade brasileira, e que só irão desaparecer a custo de um longo processo de superação que precisa ser levado adiante.


Daí a importância do esforço de conscientização, que simbolicamente tomou forma em torno da figura emblemática de Zumbi dos Palmares. Ele simboliza o despertar da consciência, em primeiro lugar das populações negras, mas também de todos os brasileiros. Há um esforço de conscientização, que é indispensável para todos os brasileiros.


Temos uma dívida social e cultural muito grande com os afro descendentes. Eles trouxeram para o Brasil, com sua presença, um grande contributo, representado não só por seu trabalho, mas sobretudo pelo valor de sua cultura, e simplesmente por sua presença, merecedora de nossa estima, de nosso carinho e de nossa solidariedade.


O Brasil, o último país a abolir a escravidão, precisa despertar para a missão especial que ele tem no mundo: dar testemunho da convivência pacífica e harmoniosa entre povos e culturas diferentes. Solidários com a população negra em nosso país, expressamos nossa gratidão por sua inestimável colaboração com nossa história e nossa missão.


No dia dezenove o calendário coloca a memória dos padres jesuítas Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e João Del Castilho, mortos em defesa dos índios guaranis, nas famosas “reduções dos jesuítas”. No sul do Brasil eles são chamados de “mártires riograndenses”, pois na verdade foram mortos onde hoje é a “região das missões”, no Rio Grande do Sul, e que naquele tempo pertencia ao Paraguai. Eles foram canonizados em Assunção, por ocasião da visita do Papa João Paulo Segundo ao Paraguai, na década de oitenta.


Junto com eles, à semelhança de Zumbi para os negros, lembramos o herói guarani chamado Sepé Tiaraju. Ele morreu enfrentando os exércitos de Espanha e Portugal, que tinham se unido para impor a repartição dos territórios sul americanos de acordo com os interesses das metrópoles, atropelando a vontade e a organização das populações indígenas.


A lembrança de Sepé Tiaraju, o herói dos guaranis sediados nos territórios a leste do Rio Uruguai, foi guardada com respeito pela população. Tanto que recebeu uma espécie de canonização popular, sendo lembrado como “São Sepé”, nome dado a um dos municípios do Rio Grande.


Os heróis são portadores de bandeiras, cuja validade ainda permanece. A melhor maneira de honrar sua memória é levar adiante as causas pelas quais deram sua vida.

Fonte: CNBB Sul 1, em 17/11/2005.


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