Jorge Lorente.
A região estava coberta pela neve. O frio era insuportável, principalmente à noite, quando a temperatura atingia seu ponto mínimo.
Nas tocas, nos abrigos mal vedados e úmidos, muitos animais não resistiam ao frio e acabavam morrendo. Algo precisava ser feito urgentemente: caso contrário, todos morreriam. Foi quando alguns animais, instintivamente, perceberam que, mantendo se bem juntinhos uns aos outros, bem próximos entre si, era possível resistir e viver. A solução era permanecer juntos para absorver o calor uns dos outros. Mas essa alternativa parecia impossível para a comunidade dos porcos-espinhos, pois estes se feriam quando ficavam muito próximos daqueles que lhes davam calor.
Começou ai a confusão. O calor tinha um preço muito alto. Aquecer-se, significava também receber arranhões, ferimentos. Poucos aceitaram a idéia. Diante dos doloridos espinhos, os mais nervosos e individualistas irritaram-se, afastaram-se dali, e morreram congelados.
Outros, no entanto, foram mais pacientes, e tomaram cuidado para não ferir e não sair feridos. Eventuais espinhadas eram, imediatamente, seguidas de pedidos de desculpas: assim, tolerando-se mutuamente, perdoando e pedindo perdão, permaneceram juntos e sobreviveram. O sacrifício preservou a vida.
Assim é a vida em comunidade, assim é a amizade e a vida familiar. Temos tanto calor para dar, e uma necessidade maior ainda de receber; no entanto, somos incapazes de conviver com as feridas provocadas pela proximidade da convivência. Como é insuportável a dor causada pelo espinho do outro, não percebemos como são afiados nossos próprios espinhos.
Com vontade de sobreviver e de receber calor, procuramos o próximo com toda a nossa força, sem a menor preocupação de quanto estamos ferindo.
Uma coisa é certa: é impossível resistir ao inverno e à frieza do mundo sem união e sem amor. O perdão é o único remédio capaz de cicatrizar as feridas provocadas pela convivência e a tolerância é o sacrifício necessário para preservar a vida.
Se com os irracionais deu certo, não vejo por que precisa ser diferente com os donos da razão. Sejamos, portanto, racionais. Ser racional é acreditar no amor. É crer no Deus da Unidade, que conhece nossas limitações e vive a expectativa de ver este seu pedido realizado:
"Que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste" (João 17, 21).
O Mensageiro de Santo Antônio.
Santo André: Associação Antoniana dos Frades Menores Conventuais.
Ano XLVIII – n.10 (dezembro de 2005), p.19
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