10 novembro 2007

O menino e as uvas



A mãe mandou seu filho Nelsinho, de sete anos, comprar dois quilos de uvas no mercado.

O homem pesou as uvas e entregou ao menino.

Após certa demora, o menino voltou satisfeito e entregou as uvas para a mãe.

Ao pegar o pacote, dona Lídia achou que estava muito leve, pesou e já telefonou para o mercado.

- Seu Manoel, o Nelsinho chegou com as uvas. Mas eu pedi dois quilos. Parece que o pacote não tem isso não.

- A senhora pesou as uvas?

- Sim, pesei no mercado , ao lado. Deu menos de dois quilos.

- Pode ser que minha balança não esteja certa. Antes, porém, lhe dou uma sugestão. Não leve a mal: seria bom pesar o menino também, antes e depois de comprar as uvas.

Dona Lídia entendeu a mensagem. Seu Manoel podia ter passado a perna. Mas o menino também poderia ter comido as uvas no caminho.

Quando nossos filhos têm alguma questão com colegas ou professores, sempre achamos que só os outros estão errados.


Clóvis Bovo
No Livro: "Histórias que Ensinam", página 78
Editora Mundo e Missão
www.missaojovem.com.br

08 janeiro 2007

Guarda Chuva Amarelo



Era uma vez um povoado todo cinzento e triste.

Quando chovia, todo mundo usava guarda-chuvas pretos, mas só e rigorosamente pretos.

O semblante de todos era muito carregado e triste. Debaixo de um guarda-chuva preto só podia ser assim.

Certo dia, em que a chuva desabava mais forte, apareceu, como por encanto, um senhor um tanto excêntrico, que ia desafiando aquele dilúvio,usando um guarda-chuva amarelo. Mas não só: avançava todo sorridente. Isso mesmo, ele sorria.

Alguns dos passantes, como sempre, sob guarda-chuvas negros, olhava para ele escandalizados e murmuravam:

– Que indecência, fica mesmo ridícula essa sua sombrinha amarela. Chuva é coisa séria e um guarda chuva só pode ser preto.

Outros ficaram indignados e se perguntavam alucinados:

– O que lhe deu na telha a esse sujeito de querer enfrentar a chuva com um guarda-chuva amarelo? Exibicionista.

Outros ainda fizeram queixa na polícia:

– É certamente um sujeito orgulhoso, alguém que faz de tudo para aparecer. Ele se parece mesmo divertido.

De fato, não havia nada de divertido naquele país de chuva permanente e de guarda-chuvas pretos.

Só Natacha não conseguia atinar o motivo daquelas críticas e um pensamento a inculcava:

– Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou amarelo, o que interessa mesmo é guarde da chuva. E ponto final.

Percebeu, além disso, que aquele senhor mesmo debaixo de um guarda-chuva amarelo se sentia perfeitamente à vontade e feliz, e queria saber muito mais.

Um dia, ao voltar da escola, Natacha se deu conta de que havia esquecido o seu guarda-chuva preto em casa. Deu de ombros e se meteu na chuva sem nada na cabeça, deixando que a água lhe encharcasse o cabelo.

Quis o acaso que, dai a pouco ela topasse com... isso mesmo, com o homem do guarda-chuva amarelo.

– Servida?

Natacha hesitou. Se aceitasse, seria alvo de gozação. Entretanto, acudiu-lhe o pensamento:

– Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou amarelo, que importa? Além disso, é melhor ter um guarda-chuva que ensopar-se de água.

Aceitou e viu-se debaixo do guarda-chuva do gentilíssimo senhor.

Então compreendeu porque aquele senhor era tão feliz: debaixo do guarda-chuva amarelo o mal tempo desaparecia. E em um céu azul, recortado de pássaros festivos, brilhava um grande e quente sol. Natacha ficou encantada e o senhor abriu-se para ela em um sorriso:

– Já sei, ficou encantada. Pois então, escute, explico tudo: houve um tempo em que eu também era muito triste neste pais de chuva sem fim, eu também usava um guarda-chuva preto. Certo dia, saindo do escritório, lá esqueci o meu guarda-chuva. Não voltei para apanhá-lo, fui andando para a casa assim, como estava. Eis que, enquanto caminhava, deparei-me com um senhor que me ofereceu entrar sob o seu guarda-chuva amarelo. Como você, hesitei, tinha medo de ser diferente, de tornar-me ridículo. Depois aceitei, porque o que mais temia mesmo era apanhar um resfriado. E me dei conta, como você, de que debaixo do guarda-chuva amarelo o mal tempo simplesmente desaparecia. Aquele senhor me ensinou que as pessoas, debaixo de um guarda-chuva preto, ficavam tristes e sem vontade de se comunicar. O gotejar da chuva e o preto da sombrinha os deixavam amarrados. Quando, de repente não o vi mais, percebi que estava segurando o seu guarda-chuva amarelo. Ele o teria esquecido? Tentei reencontrá-lo, mas não o vi mais. Por isso, guardei o guarda-chuva. Desde então o tempo sempre foi maravilhoso.

– Linda história! Entretanto, não sente remorso de ficar com um guarda-chuva de um outro?

– Absolutamente não! Porque sei muito bem que ele é de todos. Também aquele homem certamente o tinha recebido de alguém.

Quando chegaram na frente da casa de Natacha, despediram-se. Imediatamente, o homem, afastando-se, desapareceu. E a jovem se viu segurando seu guarda-chuva amarelo. Mas, então, aquele senhor: por onde andaria?

Assim, Natacha guardou aquele maravilhoso guarda-chuva amarelo. Também compreendeu que, mais dias, menos dias, o guarda-chuva haveria de mudar de dono. Passaria a novas mãos, a fim de levar serenidade a outras pessoas.

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Fábula recontada pelo Padre Pascual Chávez Villanueva (Reitor-mor dos Salesianos), no vídeo da Estréia de 2007 (mensagem de começo de ano do superior a toda família salesiana). Vídeo completo em: http://www.sdb.org/ (com opções de idiomas).

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